sexta-feira, 6 de abril de 2012

A CONVERSÃO DE SAULO DE TARSO

O livro dos Atos dos Apóstolos cita pela primeira vez o nome de Saulo por ocasião do assassinato de Estevão. A roupa de Estevão, na hora de sua morte, foi colocada aos pés de um jovem chamado Saulo (At 7,58). E Saulo estava de acordo com a execução de Estevão e começou a perseguir a Igreja: “entrando pelas casas, arrancava homens e mulheres e metia-os na prisão” (At 8,1-3).

Numa viagem para Damasco a fim de prender os cristãos, Paulo tem uma experiência que vai marcar profundamente toda a sua vida: uma forte luz do céu o envolve, ele cai por terra e ouve uma voz que dizia: “Saulo, Saulo, por que me persegues?” Ele perguntou: “Quem és, Senhor?” E a resposta: “Eu sou Jesus, a quem tu estás perseguindo...”. E Saulo fica cego e precisa da ajuda de Ananias para recuperar a vista. Isto tudo está contado no capítulo 9 e mostra a reviravolta total que acontece na vida de Saulo após este encontro com Jesus Cristo. Foi um encontro muito importante, pois, o próprio Paulo conta isto em várias ocasiões, como no capítulo 26 de Atos. Ele tinha 28 anos de idade.




Saulo nasceu em Tarso, uma cidade da Ásia Menor. Pertencia à raça judaica e foi formado dentro das leis do judaísmo. Pertencia à seita dos fariseus. Seguindo as suas tradições, Saulo se considerava membro do povo eleito de Deus e não podia admitir que Jesus fosse o Messias-Salvador. Considerava-se “separado” dos outros povos e não admitia que as pessoas estrangeiras também recebessem a graça da salvação. Quando Saulo recebe a luz de Deus, cai por terra e fica cego, o seu orgulho religioso também vai caindo por terra e sua visão vai mudando até enxergar direito, não mais conforme as leis do judaísmo.

Percebeu que Deus age na história humana com muito carinho e gratuidade. Percebeu que Deus não faz diferença de raça. E percebeu que o Espírito Santo lhe dava uma liberdade tão grande que jamais conseguira viver dentro das normas fechadas de sua religião.

UM NOVO CAMINHO

Saulo se sentiu tão realizado com esta descoberta que abandonou tudo e se tornou um pregador itinerante, indo de lugar em lugar. Quanto ele tinha 41 anos de idade se tornou o missionário das nações.

A partir do capítulo 13 de Atos, nós vamos perceber que ele é escolhido pela comunidade de Antioquia e é enviado junto com Barnabé para a sua primeira viagem missionária. Agora Saulo muda de nome. Ele vai se chamar de Paulo. O primeiro nome é judeu, o segundo é nome grego. A mudança de nome significa ruptura com um jeito antigo de viver e compromisso com uma nova missão.

O Saulo antigo, apegado às leis e perseguidor de cristãos, agora se transforma em Paulo, livre e aberto a todas as pessoas. Ele vai ao encontro delas e quer passar por todos lugares para difundir a grande Notícia de Jesus.

Ele realizou quatro viagens missionárias. A primeira está contada em At 13 e 14: Paulo vai com Barnabé e João Marcos, que depois desiste na metade do caminho.

A segunda nos capítulos 15,36 a 18,22: Paulo briga com Barnabé, que queria levar João Marcos junto, separa-se e viaja com Silas. Durante a viagem, outras pessoas entram na equipe, como Timóteo e o casal Priscila e Áquila.

A terceira viagem missionária está relatada em At 18,23 a 21,16: nesta viagem muitas pessoas colaboram na missão.

A quarta é a viagem em que Paulo vai preso de Jerusalém para Roma: At 17-28,16. Paulo, mesmo em situação de prisioneiro, não deixa de evangelizar no navio em que viaja e nos lugares onde passam.

PELAS CIDADES DO MUNDO

As viagens missionárias aconteceram num período de 16 anos, mais ou menos: entre os anos 46 a 62. Naquele tempo, viajar era muito perigoso, pois havia pouca segurança e não eram muitos os lugares de hospedarias. Paulo e seus companheiros confiavam em Deus e nos amigos e amigas que os acolhiam. Passaram por muitas cidades do Império romano. Paulo queria que o Evangelho penetrasse nas culturas das cidades. É lá que se concentra todo tipo de gente, de diversas origens. Depois que Paulo se libertara dos preconceitos do sistema de pureza judaico, ele aprendeu uma lição muito importante, conforme ele diz em At 10,34-35: “Dou-me conta, em verdade, de que Deus não faz acepção de pessoas, mas que, em qualquer nação, quem o teme e pratica a justiça, lhe é agradável.”

Paulo, por causa desta convicção de que Jesus Cristo veio mostrar o verdadeiro rosto de Deus que ama a todos sem distinção, enfrenta todo tipo de dificuldades: viaja por terra e por mar, a pé ou embarcado, subindo e descendo serras, no frio e no calor; suporta as perseguições e toda espécie de conflitos; foi até apedrejado; enfrentou doenças... Apesar do seu temperamento explosivo, nunca deixou de cultivar a ternura e a compaixão, a sensibilidade e a amabilidade.

ORGANIZANDO E ANIMANDO COMUNIDADES

Em cada cidade em que Paulo entrava deixava uma pequena comunidade organizada com algumas pessoas coordenadoras e animadoras. Preocupava-se com o bom andamento de cada uma delas. Por isso, durante as viagens, Paulo mantinha contato com as comunidades através de cartas e através de mensageiros que ele enviava de um lugar para outro. Logo que pode, volta a visitar cada uma das comunidades para animá-las e confirmá-las na caminhada.

Paulo não quer que elas vivam isoladas, mas estejam em comunicação e em comunhão com as outras comunidades.

Um dos instrumentos mais importantes que Paulo usava na sua tarefa evangelizadora era a Bíblia. Ele a usava nos discursos, nos debates, em particular ou em grupos para poder descobrir o significado de Jesus para a vida das pessoas. A comunidade fazia uso dos textos bíblicos para meditar e reconhecer que Jesus é o filho de Deus, o Salvador esperado que dá sentido pleno à vida humana.

Paulo, além da Bíblia, conta com a força do Espírito Santo que o inspira e encoraja na sua missão; é ele que coloca as palavras na boca das pessoas que evangelizam; é ele que abre o coração da gente para compreender a mensagem de Jesus e acreditar de todo o coração; é ele que enche as comunidades de alegria e entusiasmo e mostra qual o caminho certo que deve ser seguido; é ele que indica os animadores e os enche de sabedoria...

A oração e a celebração em comunidade são outros pontos importantes que Paulo leva bem a sério na sua evangelização. Foi durante uma celebração que nasceu a idéia da primeira viagem missionária; Paulo gosta de ir na sinagoga, o lugar de oração e reflexão dos judeus; Paulo reza e louva a Deus pela abertura aos povos pagãos; reza pelos coordenadores de comunidades; reza quando está preso e quando está livre, no sofrimento e na alegria... É por isso que ele consegue arrancar de dentro dele mesmo a força para perseverar e amar como Jesus amou: até o fim.

O ENSINAMENTO CONVENCE MAS O TESTEMUNHO ARRASTA

O ensinamento de Paulo não era só palavras. Ele testemunhava o que dizia com a sua própria vida. Sempre no meio do povo, não tinha medo de se misturar entre a gente simples das cidades. Aceitava as amizades, pois sem elas não conseguiria realizar a missão. Não queria ser peso para ninguém e procurava ser solidário com os trabalhadores. O trabalho manual, dentro da cultura grega, é tarefa de escravos. O sonho comum dos gregos era uma vida tranqüila.

Pessoa livre, vivia de meditação e do trabalho intelectual. Paulo teve uma experiência muito ruim quando quis convencer os intelectuais de Atenas, anunciando Jesus Cristo (At 15). Percebeu que no mundo deles a Boa Notícia não penetrava com facilidade. Por isso, seguiu outro caminho: fez questão de trabalhar com as próprias mãos. Este trabalho manual modificou sua condição de vida e percebeu que o lugar social prioritário para anunciar o Evangelho é entre os pobres. Então ele se fez solidário com os pobres e quis viver como um deles. Por causa de Jesus Cristo que ele conheceu no caminho de Damasco.